Cotidiano

Presos cumprem pena em ‘favela’ na Penitenciária de Monte Cristo

Devido à falta de estrutura e a superlotação, presos construíram barracos precários para que possam ter local para se abrigar

Como a Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc) está superlotada e com a estrutura física defasada, muitos presos moram em uma “favela” construída na área externa do presídio. As casas são precárias, construídas com tábuas, lonas, panos e chapas de ferro. Há presos, inclusive, morando em barracas de camping, armadas ao lado dos barracos.
Conforme o secretário estadual de Justiça e Cidadania, Josué Filho, existe uma área cedida, de forma provisória, aos presos da Ala 01, incendiada durante as duas últimas grandes rebeliões que ocorreram naquele presídio. “O local acolhe justamente aqueles presos que cometeram crimes relacionados à dignidade sexual. Antes de nós assumirmos à Sejuc, houve duas grandes rebeliões na Pamc e, nesse período, os presos acabaram danificando a ala onde esses reeducandos estavam. Como aos olhos dos outros detentos o crime de abuso sexual é algo abominável, esses presos sempre são visados de morte e, sem uma área de proteção, eles não poderiam ficar juntos dos outros detentos”, disse.
O acordo que eles fizeram junto à antiga gestão foi o de permanecerem isolados nessa área externa. Como a situação persiste há cerca de dois anos, acabou se formando um aglomerado de barracas improvisadas. “É uma situação deplorável evidentemente. Mas nós já estamos trabalhando para acabar com essa situação. Estamos com um plano de reestruturação das outras alas. Assim que executarmos e tudo estiver pronto, essas pessoas serão realocadas novamente para essa área”, frisou o secretário.
Segundo os próprios presos, cerca de 200 pessoas vivem na área onde funcionava uma quadra de esportes. “Todos os que estão aqui são da paz, tanto que você está vendo aqui que tudo é compartilhado entre os presos, sem problema algum, mas a situação é complicada. Nós não temos estrutura digna aqui nessa área. Falta higiene no ambiente e as pessoas adoecem muito por conta dessa sujeira”, disse um detento.
Todas as moradias do local foram feitas de forma bastante improvisada. As casas são feitas com resto de madeiras, forradas com lonas e telhas velhas. Para fazer as necessidades fisiológicas, os presos construíram dois banheiros improvisados, o que aumenta ainda mais os riscos à saúde deles.
“Tem 12 anos que estou aqui na Pamc e a situação é essa. Nós não temos condições de higiene nesse local porque, além de tudo, aqui funciona de forma improvisada. Não fosse a gente pegar paus e lonas para fazer essas barracas, nós estaríamos dormindo ao relento. Quando alguém adoece aqui, é preciso quebrar cadeado para ver se os agentes carcerários deixam levar para a enfermaria. Já perdi as contas de quantas vezes fomos até lá e não tinha sequer um comprimido para dor. A situação precisa melhorar”, frisou o apenado Edson dos Santos.
Muitos relatam que não há colchões suficientes para dar conforto aos preços. O jeito é improvisar como pode. “À noite, muitas pessoas dormem fora das barracas porque, além de quente, tem muita carapanã. Os colchões que são fornecidos são só as tiras de tão finos de desgastados. Tem colega aqui que nem colchão tem e dorme na terra mesmo. Um fez até uma cama improvisada juntando tampas de plástico dos marmitex que são entregues como comida”, relatou.   
O secretário afirmou que uma solução para minimizar a situação de desconforto está sendo tomada. “Em relação à humanização do sistema prisional, a secretaria já vem tomando as suas providências. Algumas delas já estão em prática, principalmente aqui na Pamc. A partir desse momento, a Sejuc começa a trabalhar na melhoria de estrutura para que a unidade tenha condições de manter o reeducando na melhor condição possível. Além de dar a devida segurança a eles, essas ações fazem com que se evite a ocorrência de fugas”, destacou Josué Filho.